Segundo pesquisadores brasileiros, problemas vão além da microcefalia: alguns estudos apontam que até um quinto dos bebês de mães que tiveram a doença podem sofrer danos neurológicos.
Aedes aegypti, mosquito transmissor do Zika vírus (Foto: Rede Globo)Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o Zika vírus pode ser mais perigoso do que o pensado anteriormente, afirmam cientistas brasileiros. Segundo especialistas ouvidos pela BBC, o vírus pode estar por trás de ainda mais danos às funções neurológicas e afetar os bebês de até um quinto das mulheres infectadas
Apesar de as taxas de avanço do contágio terem diminuído em algumas partes do país, graças a mais informações sobre prevenção, a busca por uma vacina está ainda no estágio inicial. Além disso, o Zika continua a se espalhar pelo continente. A maioria dos médicos e pesquisadores (bem como o Ministério da Saúde brasileiro e a agência de prevenção a doenças dos EUA) concorda que há uma ligação entre o vírus e a microcefalia, condição que prejudica o desenvolvimento do cérebro e faz com que bebês nasçam com a cabeça menor que o normal.
Embora estimativas (obtidas a partir de um estudo na Polinésia Francesa) apontem que 1% das mulheres infectadas durante a gravidez terão bebês com microcefalia, alguns dos principais cientistas envolvidos nas investigações sobre a doença no Brasil estimaram à BBC que até 20% das gestações afetadas podem resultar em vários dos outros tipos de danos ao cérebro.
Um estudo separado, publicado pelo periódico científico New England Journal of Medicine, aponta que “29% dos exames mostraram anormalidades em bebês no útero, incluindo restrições ao crescimento, em mulheres infectadas pelo Zika”.
“Nossas descobertas são preocupantes, pois 29% dos ultrassons mostraram anormalidades, incluindo restrições ao crescimento intrauterino e morte do feto, em mulheres com resultados positivos para infecção pelo Zika”, diz a pesquisa.
Um dos problemas é que muitos dos males que médicos brasileiros têm notado em bebês de mães que tiveram Zika não são tão óbvios quanto a microcefalia. São más-formações que até podem não ter o mesmo impacto no desenvolvimento da criança, mas que estão ocorrendo com uma frequência alarmante.
“Há calcificações no cérebro, um aumento no número das dilatações nos ventrículos cerebrais e a destruição ou má-formação da parte posterior do cérebro”, afirma Renato Sá, obstetra que trabalha em hospitais públicos e privados do Rio de Janeiro.
Ele lista uma série de problemas que vem encontrando com uma crescente regularidade: ventriculomegalia (aumento dos ventrículos cerebrais), danos à fossa posterior do crânio, craniossinostose (fechamento prematuro das suturas craniais, fazendo com que a cabeça se desenvolva da maneira errada) e calcificação cerebral.
O médico inclui uma preocupação adicional: geralmente não há um vestígio óbvio ou sintoma do dano neurológico até as checagens mais tardias do desenvolvimento do bebê, apenas “talvez convulsões ou outros sinais indicadores”.