Blog do Prof. Francisco de Assis SousaFrancisco de Assis Sousa é professor e cronista. Email: [email protected]
Por Francisco de Assis Sousa
A cultura de subsistência era o que predominava na zona tórrida do nordeste brasileiro, na região do semiárido. O feijão e o milho nunca deixaram de ser cultivados por aqueles que trabalhavam a terra e dali retiravam o sustento da família. Apenas o excedente, quando havia, era comercializado na feira livre, a fim de garantir a compra de uma roupa nova para o filho, ou até mesmo de um fogão a gás, sonho de toda dona de casa, habitante desta faixa de terra.
O algodão se apresentou como o primeiro ciclo econômico da região. Por muito tempo, foi o ouro branco do sertão. Um dos principais meios de sobrevivência dos grandes e pequenos agricultores. No entanto, por conta da ausência de políticas públicas em defesa do pequeno produtor rural, sobretudo, assistência técnica, o algodão foi aos poucos sendo consumido por uma praga, apenas conhecida como ‘bicudo’. Vencido, sem nenhuma alternativa que possibilitasse salvar a lavoura, a produção foi cessando até o seu esgotamento final. E hoje, esquecido no seio da caatinga, a presença de um pé aqui, outro acolá, é apenas o testemunho que faz brotar na lembrança a sentença de um tempo que não volta mais.
Daí sobressaiu à mandioca para aqueles que possuíam terras na região das chapadas de solo macio, onde a enxada corria solta entre a plantação. Porém, ao longo dos anos, com a seca mais presente, tudo foi fracassando, como diz o caboclo. De vinte arrancas, foi-se resumindo para quinze, dez, cinco... “A falta d’aqua acaba com tudo”. Sobrou apenas o caju, cultivado no mesmo tipo de solo que a mandioca, um dia, prosperou.
Da família das Anacardiáceas (Anacardium occidentale Linn), o caju é uma planta adaptável ao clima seco, pois não necessita de tanta água para sobreviver; o fruto, para todos os efeitos no conceito prático, varia no tamanho, na forma, cor e sabor. O pedúnculo infla-se pelo acúmulo nos tecidos de um líquido aquoso e, dependendo da variedade, pode ser doce ou azedo. A castanha, o fruto de fato, com o mesocarpo espesso, contendo óleo viscoso, cáustico e inflamável, possui, no interior, uma amêndoa revestida por uma película com dois cotilédones carnosos e oleosos.
O caju maduro, além das qualidades gustativas, é recomendado pelo alto valor alimentar e suas virtudes medicamentosas. É a substância comestível mais rica em vitamina C. Daí, o suco de caju ser um reconstituinte geral, um tônico de primeira ordem, além de ser desintoxicador, diurético e depurativo.
Para a tristeza dos produtores, a cultura do caju é mais um ciclo econômico que, pela falta de chuva, se esvai do sertão nordestino A última safra não passou pela colheita do pseudofruto, nem da castanha. O saldo resumiu-se nos troncos secos de tão mortos que foram cortados, empilhados e comercializados para fornecerem energia às fábricas de farinha e de gesso, no alto da chapada do Araripe. Nos campos, antes verde, uma camada de areia desponta adormecida na amargura causticante dos raios do Sol. Quanta solidão!
Francisco de Assis Sousa é professor e cronista. Email: [email protected]